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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

 

Estes dias estive me debruçando sobre o acervo do jornal Gazeta de Sergipe e chamou minha atenção como foi importante o início da década de 70 para o Estado, em basicamente todas as áreas. A síntese histórica que lhes apresento a seguir dá uma ideia do que foi aquela época, além disso nos convida a fazer um paralelo reflexivo sobre promissor passado histórico com o tempo presente, passadas cinco décadas. 
O que mudou? No que avançamos, recuamos ou ficamos estacionados no tempo? O que precisa ser reconsiderado ao nível das políticas públicas voltadas para a educação e a para cultura, por exemplo? O passado pode apontar promissoras esperanças e projetos para o futuro muito mais do imaginamos. Nesse sentido, passado nunca é morto, mas vivo quando bom uso fazemos dele.
O ano de 1971 começou com mais uma edição da Procissão de Bom Jesus dos Navegantes, em Aracaju, com a Rua da Frente se cobrindo de gente, aos milhares. Com embarque e desembarque na Ponte do Imperador, percorrendo todo o estuário do Rio Sergipe, o evento contou com a presença de inúmeras autoridades civis e eclesiásticas.
Alguns dias depois, a notícia do incentivo do Conselho Estadual de Cultura (mais tarde presidida por Núbia Marques) no patrocínio aos grupos folclóricos de Laranjeiras nas celebrações da Festa de São Benedito no dia 6 de janeiro, a exemplo da Chegança, das Taieiras e da Dança de São Gonçalo.
O Departamento de Cultura e Patrimônio Histórico de Sergipe, tendo à frente a professora Beatriz Góis Dantas, então professora de antropologia da UFS, levava adiante as discussões e ações de um robusto e consolidado Plano de Cultura para o Estado, com foco na organização arquivística e na salvaguarda do patrimônio.
Os clubes (IATE, Cotinguiba, Vasco, Atlética) fizeram carnavais memoráveis, com concursos, apresentações de orquestras e de escolas de samba. No interior, além das comemorações mais privativas, também acontecia o festejo momesco nas ruas, a exemplo de Propriá e Lagarto.  
No mês de junho, as atenções se voltaram para a Rua São João, em Aracaju, para as guerras de busca-pé, concursos de quadrilhas e fogos no interior. Em julho, Luiz Gonzaga fez um grande e marcante show na praça Fausto Cardoso.
Dom Luciano José Cabral Duarte foi eleito novo arcebispo de Aracaju, empossado em grande e concorrida solenidade no dia 11 de março. Naquele ano, ele foi homenageado pela Universidade Federal de Sergipe, que celebrava três anos de fundada. Em dezembro, ele recebeu a Ordem do Mérito Nacional pelo Ministério da Educação.
Na Academia Sergipana de Letras, foi eleito um novo presidente. O jornalista Zózimo Lima, que presentava a todos com excelentes textos, artigos e reflexões na Gazeta de Sergipe, além de ser conhecido por um crítico contumaz da instituição, que insistia com a ideia de não aceitar mulheres. Walter Cardoso tomou posse na cadeira 31. Na posse de José Amado Nascimento, a presença ilustre de Aurélio Buarque de Holanda. Na ocasião, ele pediu proteção ao patrimônio histórico. Em dezembro, José Amado assumiu a presidência do Tribunal de Contas de Sergipe.
O Governador João de Andrade Garcez (1970-71) passou a denominar a biblioteca pública estadual de Epifânio Dórea. Os cinemas seguiam seu ritmo frenético, com sessões diversas no Rio Branco, Aracaju, Palace, Vitória. O teatro também seguia dando as cartas, com destaque para a atuação do professor João Costa. Na segunda quinzena de janeiro, era realizada a primeira edição do I Encontro de Teatro em Sergipe, na galeria Álvaro Santos. Nas artes plásticas, uma referência especial a Inácio e a Adauto Machado, com exposições sempre bem concorridas.
Em Estância, acontecia o IV Festival de Estanciano da Canção. Os seus organizadores lutavam junto ao poder municipal, prefeito Manoel França, a construção de um espaço, escola ou ginásio de música. Na capital, Alvino Argolo, aos vinte e dois anos, encantava a todos com sua maestria ao violão. Editorial do jornal Gazeta de Sergipe, assinado por Luiz Antônio Barreto, reclamava do baixo nível musical do Estado, não havendo um estímulo à difusão do ensino de música, por exemplo, apesar dos esforços de “meia dúzia de artistas natos, os quais teimam em prosseguir procurando chamar a atenção do poder público...” (18 e 19.07. p. 3).
Parece que a crítica de Luiz fez efeito. Em outubro daquele ano, foi realizada da segunda edição do Festival Estudantil Música Popular, uma promoção dos compositores sergipanos em parceria com SEREP. Entre os organizadores estavam: Osmário Santos, Hilton Lopes e Djaldino Motta. No mesmo mês, aconteceu a primeira semana de música do Conservatório de Música de Sergipe. Em novembro, a UFS em parceria com a Gazeta de Sergipe e Galeria Álvaro Santos, apoiaram a realização do II Festival Estudantil de Música.
Aquele ano promissor para a cultura sergipana foi coroado com a inauguração da TV Sergipe, no dia 15 de novembro.