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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

As festas de um modo geral giram em torno da celebração de boas colheitas. Isto vem de longa data, antes mesmo da chegada dos portugueses ao Brasil. E não foi diferente em Sergipe. Comumente, essas festas são de dois tipos: de referência, com um teor mais religioso; e de entorno, para além do ritual religioso, mas de alguma forma derivado ou a ele relacionado. Um exemplo disso é a plantação e a colheita do milho relacionados à devoção a São José.
Tudo leva a crer que foi com a própria influência da cultura portuguesa no Brasil que os festejos juninos chegaram por aqui, notadamente em razão do catolicismo guerreiro e depois do catolicismo popular e a relação intimista e até mesmo de identidade com os santos, tais como São Benedito e notadamente os santos juninos: Antônio, João Batista e Pedro. O primeiro, de origem portuguesa e dois outros diretamente relacionados à vida e à morte de Jesus.
Sobre as quadrilhas, a versão que mais aprecio é a que diz respeito à vinda estadia da Coroa Portuguesa no Brasil, entre os anos 1808 e 1820. Havia a promoção de bailes de influência francesa na Corte, onde as pessoas eram dividas em pares e seguiam uma certa coreografia ao comando de alguém. As festas se popularizaram e há quem diga que passaram se chamar joaninas, numa menção ao príncipe Dom João VI. É curioso notar, por exemplo, que até hoje existem nas marcações de quadrilhas expressões afrancesadas como “anariê”, “alevantú”.
E porque no Nordeste é tão intensa esse tipo de festa? Acredito que pela própria formação cultural do Nordeste. Nunca é demais lembrar que por muito anos essa região foi muito importante para a economia brasileira, sobretudo pela farta agropecuária, preservando seus valores mais rurais e suas tradições populares de cunho religioso católico. O deslocamento do eixo econômico do país mais para o Sudeste e Sul, deu origem a outras demandas culturais, em razão da vinda de estrangeiros europeus para trabalharem nas lavouras de café, por exemplo. 
Quanto ao forró está, segundo uma versão muito conhecida, diretamente relacionado à presença de militares norte-americanos em bases e operações no Nordeste brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial, a partir dos anos 1942. A expressão teria sido originada de festas que eram festas para soldados americanos, onde na entrada se escrevia “for all”, que quer dizer para todos. Outra versão, relaciona ao termo de origem africana “forrobodó”, que quer dizer confusão. Assim, antes de virar um gênero musical a embalar as festas juninas, predominava o samba de coco, o xaxado, xote e o baião eternizado por Luiz Gonzaga.
Depois de dominar a cena cultural do Brasil, o baião foi dando espaço ao forró, que conheceu até os anos 80 dois movimentos: do clássico triângulo, sanfona e zabumba ao incremento de outros instrumentos e novas temáticas, inclusive de duplo sentido, com Genivaldo Lacerda, Zenilton e Clemilda, principalmente. Depois disso, o surgimento de grupos que eletrizaram e aceleram o forró e o espetacularizaram com bandas como Calcinha Preta e Aviões do Forró.
A feitura de fogos de artifícios e o seu uso em celebrações remetem à antiguidade oriental. Tudo leva a crer que a inserção de fogos às festas juninas teria ocorrido entre o final do século XIX e início do século XX. Popularmente, disse-se que serve para acordar São João para festa e para dar mais brilho e alegria as noites. Com o tempo, ganharam diversas utilidades, inclusive no uso de simulações de lutas com espadas de fogo, muito comuns em cidades como Estância e Lagarto. Nesta última, há pelo menos um século se realiza a cilibrina, que acontece na virada de maio para junho, anunciando as festas juninas.
Eu penso que apesar das mudanças, a festa ainda tem um tom celebrativo e identitário. É fato que sua espetacularização e comercialização colocou em evidência a farra pela farra, sem nenhum sentido festivo, geralmente em torno da bebida e do convite para o sexo, por exemplo.
O Forró Caju, criado em 1993, é fundamental para firmar a identidade junina não somente à cidade de Aracaju, mas também ao Estado de Sergipe. Virou um grande empreendimento público, é bem verdade, em parceria com a iniciativa privada, mas caiu no gosto dos sergipanos e procurou preservar a atenção dada aos artistas da terra, a exemplo de Amorosa e Sergival, só para citar alguns.
A difusão das festas juninas pelo interior sergipano aconteceu de acordo com a formação cultural e social de cada município. Como já disse, Lagarto se notabiliza até hoje pela cilibrina. Por outro lado, outras cidades, como Capela, enfatiza a questão do Mastro, uma tradição antiga das festas juninas do Brasil e que sempre tiveram uma relação à festa de santos; em Itabaiana, a festa do caminhoneiro e a relação direta com os primeiros dos três santos juninos, que é Santo Antônio. Sem falar em Estância e o tradicional Barco de Fogo, uma manifestação do final da década de trinta, criada pelo fogueteiro conhecido por Chico Surdo. Aliás, até hoje a cidade está entre as mais forrozeiras do Estado.