imagem

Olhar para dentro de si mesmo se tornou um dos exercícios mais importantes durante a pandemia provocada pelo COVID-19. Embora a história da humanidade apresentasse a possibilidade deste acontecimento, ninguém estava preparado para viver em isolamento social como orientou a OMS (Organização Mundial da Saúde). Os diversos setores associados ao turismo (transportes, hospedagens, guiamento, receptivos, bares e restaurantes, entre outros) foram os primeiros afetados pela necessidade de restrição ou suspensão das atividades consideradas não essenciais.

As empresas ligadas ao turismo tiveram que reprogramar seus funcionamentos admitindo inconsistentes medidas governamentais como a lenta aplicação do programa emergencial de manutenção do emprego e da renda, ou o aporte de recursos nos bancos que pouco se esforçaram em oferecer crédito diferenciado, com juros ou carência mais apropriados, induzindo-as a acumular dívida diante de um futuro incerto para a retomada dos negócios. Como apontou a OMT (Organização Mundial do Turismo) a atividade turística está imersa na vulnerabilidade do momento, com milhões de empregos em risco e mais de U$S 2 trilhões em potencial de perda no ano 2020.

Fazer um negócio turístico sobreviver está, portanto, ligado diretamente à necessidade de olhar para dentro, avaliar suas condições e tomar as decisões mais coerentes para minimizar este impacto global.  Mas uma questão se torna relevante: quem olha para dentro do destino turístico no momento em que as empresas estão concentradas em olhar para dentro de si mesmas?

O turismo se processa com um conjunto de empresas e prestadores de serviços, cuja oferta é composta por atrativos naturais ou artificiais, equipamentos públicos e privados, e infraestrutura de apoio, transformado destinos receptivos. O produto turístico é caracterizado pela intangibilidade, inseparabilidade (processado junto com o consumidor turista), sobretudo pela incapacidade de estocá-lo. Normalmente o produto turístico chega ao mercado em forma de roteiro ou pacote turístico, formatado pelos operadores e agentes intermediadores de viagens ou pelos próprios turistas.

Neste contexto, a oportunidade de olhar para dentro dos destinos e reavaliar os produtos da sua oferta turística deve se converter num compromisso coletivo daqueles que formam a cadeia de produção do turismo, agentes públicos, privados, do terceiro setor e acadêmicos, a fim de repensar o futuro no qual, possivelmente não caberão velhas ações isoladas e sem planejamento ou estratégia de desenvolvimento turístico.

Protocolos de segurança sanitária, personalização e humanização dos serviços, atendimento virtual, mudanças no comportamento dos turistas, e maior uso das plataformas digitais estão sendo amplamente apontados como tendência para o cenário pós-pandemia. Nesta perspectiva destacam-se roteiros de baixo fluxo, mais personalizados, mais conectados com a natureza e com os devidos cuidados de ordem sanitária. Diferente do que alguns destinos massificados podem imaginar não se trata de redução de fluxo, mas de reprogramação e redirecionamento dele, portanto, a diversificação de produtos ou a oferta de novos roteiros nunca foi tão importante.

No caso do Estado de Sergipe, nos últimos anos novos roteiros foram pensados, mas não chegaram a ser devidamente organizados com vista à oferta ou inserção nas ações promocionais do mercado nacional. Ao separarmos o Estado em quatro áreas/centralidades, como prevê os Planos de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS) das Regiões/Pólos Turísticos, podemos observar novos produtos, utilizando como exemplos: Área 1 - Centro (Roteiro Aracaju Cultural, Roteiro Aracaju de Tototó, Ciclo Turismo e Roteiro Caminhos da Irmã Dulce); Área 2 - Litoral Norte (Roteiro Litoral Norte, Artes do Barro); Área 3 - Litoral Sul (Roteiro Caminhos dos Jesuítas e Roteiro dos Engenhos); Área 4 - Sertão (Roteiro do Cangaço e Roteiro do Rio São Francisco). A maioria destes roteiros possui descritivo de itinerário voltado para intensas experiências turísticas, mas aguardam a realização de teste operacional para serem comercializados de formas distintas, aspectos que não impedem análises de planejamento sobre os elementos que os compõe, porque cada produto, novo ou supostamente consolidado, requer atenção permanente sobre a qualidade das operações que nele se processa (acessibilidade, sinalização, serviços no entorno dos atrativos, entre outros).

No turismo, este olhar para dentro está também condicionado à revisão ou elaboração dos Planos Estratégicos de Turismo em diferentes escalas, ao monitoramento das instâncias de governanças como Fórum Estadual, Conselhos regionais e municipais de turismo aonde devem se encontrar os agentes de produção do turismo, encarando esta mudança histórica e projetando o futuro dos destinos turísticos.

 Joab Almeida Silva

Professor subchefe do Departamento de Turismo da Universidade Federal de Sergipe