Evento cultural e religioso, um espetáculo de beleza e fé católica, tem origem europeia e reúne fiéis, artesãos e turistas na quarta cidade mais antiga do Brasil

 

Distante apenas 22 quilômetros da capital, Aracaju, o município de São Cristóvão realizou  quinta-feira, 19, a confecção dos tapetes em celebração a Corpus Christi. Uma das mais tradicionais manifestações da fé católica, o evento, que também é cultural, aconteceu no Centro Histórico da quarta cidade mais antiga do Brasil e começou às 5h, reunindo moradores, artesãos, integrantes de escolas e de instituições religiosas, além de turistas.

A comunidade se junta para confeccionar tapetes que transformam a manifestação cultural e religiosa num belo espetáculo

De origem europeia, a tradição remete à acolhida de Jesus em Jerusalém, quando as pessoas cobriam as ruas com ramos e mantos. Para celebrar a passagem bíblica, os artesãos e fiéis da Cidade Mãe de Sergipe confeccionaram mais de 1.000 metros de tapetes ao longo de nove ruas, inclusive, passando por sete igrejas do Centro Histórico.

Diante da relevância da manifestação religiosa e cultural, foi sancionada a Lei nº 688/2024, que determina o dia de Corpus Christi como feriado municipal em São Cristóvão. Um ano antes, em 2023, a Procissão de Corpus Christi já havia sido reconhecida como Bem de Interesse Cultural de Sergipe, por meio de projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa (Alese), de autoria do deputado estadual Paulo Júnior.


Tapetes enfeitam as ruas históricas de São Cristóvão em celebração a Corpus Christi

A confecção dos tapetes ocorre pelos seguintes logradouros: Rua Tobias Barreto, Praça do Carmo, Rua Messias Prado, Rua Engenheiro Botto de Barros, Rua Almirante Amintas Jorge, Largo do Rosário, Rua do Rosário, Rua Coronel Erundino Prado, Praça São Francisco, Rua Ivo do Prado, finalizando com o retorno à Praça da Matriz, onde ocorre o encerramento da celebração religiosa. A missa no Santuário Nossa Senhora da Vitória, considerada a igreja mais antiga do estado e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), acontece às 15h, seguida de procissão pelas ruas ornamentadas.

Confecção

Para a confecção dos tapetes, são utilizados materiais como sal grosso, anilina, maravalha, pó de café e até cascos de sururu e massunim. Uma inovação aconteceu em 2024 quando peças artesanais em tecido bordado, produzidas por artesãs da cidade, passaram a compor os tapetes, reforçando, assim, o caráter artístico e comunitário da celebração.

A coordenadora da confecção dos tapetes, Vânia Correia, explicou que toda a população foi convidada a participar da produção dos tapetes com o objetivo de manter viva a expressão da fé cristã, que ela considera tão bonita. “É um trabalho coletivo que envolve muito amor e dedicação. Cada detalhe é pensado com carinho, e os desenhos dos tapetes também levam mensagens sobre temas como sustentabilidade, educação e meio ambiente”, ressaltou.

 

Inclusão social

A artista visual Alana Naara Santos, de São Cristóvão, está participando pela primeira vez da confecção de tapetes. Chegou ao Centro Histórico por volta da 8h da manhã e colocou a mão na massa, ou melhor, no sal grosso pigmentado e na serragem, para enfeitar uma das ruas da cidade. “É bem interessante, bem legal participar dessa manifestação cultural e religiosa. A gente consegue reproduzir várias imagens, mesmo que seja um pouquinho difícil. Como sou autodidata, dei uma olhada nos que já estão prontos e fui compondo meu tapete. Minha inspiração foi um cacho de uva. Sobre o evento, é muito importante, porque é a cultura da cidade. É necessário manter essa tradição. Sem contar que é bem bonito, né? Para nós, artistas, principalmente, aqui é uma liberdade de expressão”, opinou.

Alana Naara Santos, artista visual: “Para nós, artistas, principalmente, aqui é uma liberdade de expressão”

O arteterapeuta Wendell Silva Vieira levou um grupo do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do município, composto por profissionais e usuários. Também como estreante, Wendell disse que estava muito feliz em participar e, por isso, mostrou, orgulhoso, os tapetes no espaço reservado ao grupo. “Nossa equipe é muito profissional: temos técnico de enfermagem, enfermeiro, psicopedagogo, e, há poucos instantes, tivemos aqui usuários que também estavam ajudando a confeccionar os tapetes. Isso aqui acaba sendo uma terapia para eles. E como é uma tradição local, a gente os traz também para fazer essa inclusão social. Aqui é o momento que eles estão interagindo socialmente”, esclareceu o artetapeuta.

Já a tenente-coronel Jucimary Pires, diretora do Museu da Polícia Militar de Sergipe, em São Cristóvão, celebrou o fato de ser a primeira vez que a instituição participa da elaboração dos tapetes em homenagem a Corpus Christi. “Achamos importante participar desse momento de interação com a comunidade, um momento de celebração em função da data religiosa e que também é cultural e artístico. É relevante dar a devida importância a essa tradição, que faz parte também da preservação do patrimônio sergipano”, comentou. Além da tenente-coronel, mais policiais, como a sargento Cidéria Oliveira, e integrantes do museu participaram da confecção dos tapetes, apresentando, entre outras figuras, o brasão comemorativo pelos 190 anos da Polícia Militar, comemorados em 2025.


A sargento Cidéria Oliveira e a tenente-coronel Jucimary Pires levaram o Museu da Polícia Militar de Sergipe para a manifestação

Encantamento

A empresária Edilene Oliveira, de Propriá, no Baixo São Francisco sergipano, não poupou esforços para, enfim, conhecer os tapetes que enfeitam as ruas de São Cristóvão em celebração a Corpus Christi. “Sempre tive vontade de conhecer e não tive a oportunidade. Aí, ontem, estava em Aracaju e fiquei especialmente para poder vir hoje para cá, para ver essa manifestação, tanto cultural como religiosa, que encanta a todos. Estou superencantada!”, afirmou.


A empresária Edilene Oliveira, não poupou esforços para conhecer os tapetes em São Cristóvão e se disse encantada por eles

Edilene Oliveira, que é paulista de nascimento, mas que mora em Sergipe há 45 anos, comentou, em especial, sobre o empenho dos populares, porque considera que a cultura e o turismo são feitos com o pertencimento dos moradores da cidade. “A gente percebe que, aqui, há esse pertencimento. E isso é muito importante para desenvolver o crescimento e manter a cultura, a tradição tanto religiosa quanto cultural. E a gente vê, caminhando pelas ruas, que são muitos jovens. Então, essa cultura está vindo de pai para filho, e isso é muito importante”, pontuou.

 

Fotos: Max Carlos/Setur


 Fonte :SETUR – Secretaria de Estado do Turismo