“Eu faço beijú desde criança. Minha mãe começou quando a minha avó faleceu. Eu tinha dois anos, então eu não conhecia a minha avó. O que eu sei é o que a minha mãe falava, as memórias dela e os ensinamentos que ela me passava. Um desses ensinamentos é justamente a produção dos beijus, que foi passada na minha família de mãe para filha. É um trabalho que eu faço desde de criança, com muito amor”. 

O relato de Edneide de Jesus, proprietária da Casa do Beiju, no Centro Histórico, é um retrato da história de muitas pessoas que produzem alimentos em São Cristóvão, feitos com ingredientes como coco e mandioca  e marcados por histórias que remetem à cultura da Cidade Mãe. Esses alimentos são um patrimônio do município e capazes de atrair turistas de todo o país. 

Edneide de Jesus, proprietária da Casa do Beiju

 

Foi justamente com o objetivo de capacitar agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais que produzem alimentos típicos, para aprimorar o turismo gastronômico no município, que uma equipe técnica da Embrapa Alimentos e Territórios, com apoio da empresa Lab Turismo realizou  visitas técnicas e oficinas sobre experiências turísticas em São Cristóvão nesta quarta e quinta-feira (24) e (25), no âmbito do projeto Paisagens Alimentares.

Durante a passagem pela primeira capital de Sergipe, a equipe da Embrapa e da Lab Turismo visitaram estabelecimentos como a Casa das Queijadas, Casa dos Beijus e a Casa dos Bricelets, avaliando as potencialidades e as possibilidades de melhoria do serviço prestado, para atrair ainda mais turistas. 

 

O coordenador do projeto Paisagens Alimentares da Embrapa Alimentos e Territórios, Aluísio Goulart Silva, explica que o projeto começou no ano passado, com uma etapa exploratória, onde foram avaliadas doze cidades de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. A partir dessa avaliação foram elaborados  critérios que vão desde a infraestrutura local para receber o turista, até organização social e a importância do alimento do ponto de vista da cultura alimentar local. Após as avaliações, apenas dois municípios sergipanos foram selecionados para o projeto: São Cristóvão e Indiaroba. 


Após as visitas, o coordenador apontou o diagnóstico sobre o turismo gastronômico sancristovense: “O turismo gastronômico aqui tem um grande potencial, sobretudo por  essas experiências dos beijus e do coco.  Por outro lado, tem muita possibilidade de crescer.  Mas a essência do projeto é realmente trabalhar com esses grupos de mulheres que trazem a tradição a partir da fabricação”. 

Aluísio Goulart Silva, coordenador do projeto Paisagens Alimentares da Embrapa Alimentos e Territórios

 

O projeto conta com a participação da Lab Turismo, uma empresa de consultoria técnica em turismo, contratada pelo projeto Paisagens Alimentares para fazer assessoramento técnico, com as atividades de diagnóstico dos municípios que estão sendo trabalhados pela Embrapa. O consultor da empresa, Richard Alves, destacou que o objetivo da iniciativa é potencializar o turismo de experiência, que vai além da contemplação dos pontos turísticos: 

“As pessoas quando vem a São Cristóvão, através dessa produção dos alimentos podem conhecer a história, a cultura, as pessoas, os lugares. É o turismo de experiência que não é  só contemplativo, mas as pessoas  querem realmente fazer essa imersão na cultura do lugar e, aqui em São Cristóvão, a gente vê todo esse potencial.  A proposta é a integração da produção alimentar . Com as oficinas o objetivo é  discutir com essas empreendedoras como potencializar ainda mais o turismo de experiência na cidade”, pontuou.  

Richard Alves (centro) e equipe da Lab Turismo

 

Mandioca e coco, a identidade alimentar da Cidade Mãe


O coordenador de turismo de São Cristóvão, Kaique Rocha, conta que a gestão já trabalhava a questão da identidade alimentar da cidade, influenciada pela produção das beijuzeiras e  boleiras e aponta a contribuição de um levantamento feito pela mestranda Lara Lázaro, da Universidade Federal de Sergipe, sobre os impactos do coco e da mandioca na produção alimentar local. 

“O turismo tem várias vertentes, uma delas é o turismo gastronômico e São Cristóvão já tem uma identidade alimentar e culinária muito forte mas até então não tinha sido trabalhada. A cidade tem a capacidade de atrair muitos turistas e a gente  quer que essas pessoas estejam dentro do roteiro  turístico do município. O turismo gastronômico está em crescimento no  Brasil, inclusive tem muitas pessoas que já viajam pela gastronomia e  quando chegam aqui, a prioridade não é comer uma pizza mas os alimentos  próprios do município”, pontuou. 

Kaique Rocha, coordenador de turismo de São Cristóvão


O que é paisagem alimentar?

Esse conceito de paisagem alimentar vem sendo utilizado na Europa há bastante tempo, sobretudo em Portugal e leva em conta o histórico e a dinâmica do sistema agroalimentar local, associada à geografia da produção do alimento e ao retrato da paisagem que é consequência da intervenção humana.

 

 

 

 

 

Fonte: Prefeitura de São Cristóvão

Fotos: Jhonny Oliveira.